sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Dificuldades de comunicação...

A todos os interessados e desinteressados...
Não tenho acesso à internet há 250 anos, como já devem ter reparado - se é que alguém repara, ainda, nesta coisa - e é devido a esse facto que o meu blog se tem encontrado virtualmente morto. Lamentavelmente, calha mal, pois é nesta altura que ele devia estar vivo, vivíssimo, vivérrimo, alive and kicking, tal como a minha vida. Estou, de momento, em Goa, onde encontrei um sinal fraco e intermitente de internet que não me permite a colocação de fotos, portanto levarão vossas excelências com um relato mais insípido (ou pelo menos não tão visual) das seis partes constituintes do que têm sido os últimos 20 dias:

PARTE I - RISHIKESH
Chegámos a Rishikesh, no Norte, e pasmámos. É uma cidade minúscula, mas uma das cidades sagradas da Índia. Banhada pelo rio Ganges, alberga milhares de peregrinos e viajantes do mundo espiritual. Entre aulas de yoga e meditação deixámo-nos relaxar em praias fluviais e cataratas alucinantes onde mergulhámos em águas frescas e cristalinas num cenário tão idílico que nem vou tentar descrever; apanhámos também o Ganesh Chaturthi (o festival do deus elefante), uma das alturas mais importantes do calendário hindu. Aproveitámos para abençoar vários objectos no Ganges, entre indianos e indianas que se banhavam neste rio sagrado, e partilhámos com eles o ritual de atirar uma pequena imagem de Ganesh para o Ganga, na esperança que o deus “removedor” dos obstáculos leve com ele e com as correntes do rio todas as nossas dificuldades. E porque todas as bênçãos são bem-vindas, aproveitámos também para pedir pela deslocação de qualquer incómodo da vida dos nossos amigos e família. (Tudo de bom, pessoaaaaallll!)

PARTE II - NOVA DELHI
Oh-meu-Deeeeus!!! Odeio, detesto, abomino, desprezo esta cidade, Delhi é um nojo!!! É a coisa mais feia, porca e suja já parida por este mundo infecto. Lixou-me o alinhamento dos chakras todo, e nunca mais cá ponho os pés. E tenho dito.

PARTE III - AGRA
Depois da tempestade chega a bonança, e esta veio em forma de castelo de sonhos encantados das mil e uma noites. Entrámos numa cidadezinha, igual a qualquer outra, cheia de condutores de tuktuk e vendedores ambulantes, e começámos a andar pelas ruazinhas cor de tijolo, a conversar, tranquilamente, quando... (devo admitir que estava à espera de menos, fala-se tanto sobre isto que já se tornou um cliché e estava à espera que tivesse pouco impacto) …quando vimos, brilhando ao Sol do meio-dia, branco e cor-de-rosa como um grande bolo de casamento, o Taj Mahal. É, sem sombra de dúvida, uma das coisas mais impressionantes e bonitas que já vi. Os detalhes, os jardins, as paredes incrustadas com jóias semipreciosas, as cúpulas... É de tirar o fôlego. Tal e qual um desenho ou um postal, é uma realidade tão inesperada que parece que não o estamos realmente a ver; parece que estamos a ver o tal desenho ou postal, aquele que já vimos milhões de vezes e que nos deixou a imagem do Taj tão fortemente imprimida na mente que quase o poderíamos desenhar de memória---mas não há memória, desenho ou postal que transmita a força e a beleza estarrecedora deste atordoante monumento de amor.

PARTE IV - JAIPUR
Jaipur é uma cidade do Rajastão (um dos estados de deserto da Índia) que é feia, suja e cheia de gente, tal como Delhi. A diferença é que a cidade é toda rosada, o que muda o visual, claro. Uma cidade feia torna-se bonita quando é cor-de-rosa, até os homens das cavernas sabiam disto, e Jaipur não é excepção. Principalmente porque tem o pôr-do-sol mais bonito de sempre, que se encarrega de dar um tom alaranjado às tais casinhas (e templos) rosinhas. Mas o melhor de Jaipur foi termos decidido entrar num templo perdido e obscuro, que qualquer pessoa com dois dedos de testa teria evitado. E digo isto porquê? Porque, para não faltar à regra, é nestes riscos calculados que está a beleza deste país e desta gente, e porque mandar o medo ir dar uma volta era um dos meus objectivos nesta viagem. Assim, entrámos no templo, onde estava a decorrer uma pequena cerimónia com cinco velhotes tocando instrumentos. Claro que nos afiambrámos logo à escadaria mais próxima e ficámos a ouvi-los tocar com um ar tão encantado que eles convidaram-nos para tocar com eles. E nós lá fomos, de estrelas nos olhos e música sagrada no coração, sentarmo-nos entre os sábios os templo e com eles tocar e cantar, numa das experiências mais inesquecíveis de sempre. Sitaram, sitaram, sitaram...

PARTE V- PUSHKAR
Pushkar é outra das cidades sagradas da Índia, e os hindus acreditam que nasceu de uma flor de lótus que caiu no deserto das mãos de Brahman, o deus que criou o universo. Quando essa flor tocou o solo, dela começou a brotar água, dando origem ao lago (e mais tarde à cidade) de Pushkar. Além disso, foi aqui que depositaram as cinzas de Gandhi e de Nehru, em dois ghats (escadarias sagradas que dão acesso à agua) mais tarde baptizados com os seus nomes, o que faz disto também um sítio histórico. E mais do que isso: foi onde a Daniela Mira recebeu a sua primeira pooja (bênção hindu), com água sagrada, feita por um verdadeiro homem santo do hinduísmo (um dos muitos da cidade, entenda-se), o que faz da cidade um sítio intemporal, hehe (“presunção e água benta, cada um toma a que quer”, por isso não me chateiem, meus amores). Além disso, levei dois miúdos de rua a almoçar, e um deles nunca tinha sequer experimentado batatas fritas! Acho que toda a injustiça do mundo está no olhar de uma criança que nunca teve a oportunidade de comer batatas fritas - mas toda essa injustiça é engolida pelo seu sorriso quando as prova pela primeira vez... E ainda ganhei uma pulseirinha cor-de-rosa dos meus meninos de couro curtido… No último dia decidimos subir para um camelo e ir acampar no deserto. Só víamos estrelas e as silhuetas dos guias e de alguns habitantes do deserto, e o silêncio só era cortado pelos traques dos camelos. Pois. Mas foi outra experiência maravilhosa.

PARTE VI - GOA
De Goa já falei, mas como desta vez fomos para uma cidade (e praia) diferentes, vou dizer só isto: Nunca vi tanta gente frita da cabeça junta. Há os putos europeus que andam p'raqui armados em freaks com o ar mais destruído de sempre; há os quarentões solteirões, que andam a tentar encontrar-se e que acham que sabem quem são, mas andam mais perdidos que os putos europeus; há as mães solteiras que vieram viver para Goa com os seus filhos pequeninos e vivem de vender a sua arte (pinturas, fotos, esculturas...) e de beber e comer bem; há os sobreviventes dos anos 60 que decidiram começar a envelhecer graciosamente neste pequeno paraíso... Em suma: Arambol é o sítio para onde o movimento hippie veio para morrer--- ou melhor para ir desvanecendo-se, entre um e outro bafo de canhão e um ou dois goles de um bhang lassi.

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