sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Lalbagh

O Jardim Botanico de Lalbagh fica no centro de Bangalore, e eh o seu indisputavel pulmao. Alem de ser lindo de morrer, eh uma das principais razoes, juntamente com o Cubbon Park, pelas quais Bangalore eh conhecida como Garden City. Aqui temos um relogio botanico e imensas especies vegetais indianas, como seria de esperar. Menos de esperar, no entanto, sao os anoezinhos da Branca de Neve, sorridentes, como se fizessem parte integral do Bagav Gita (livro sagrado hindu), e pertencessem perfeitamente ao meio ambiente indiano.


Kempe Gowda foi o primeiro prefeito da cidade, e em termos praticos, o responsavel pela sua criacao. Nao ha na cidade ninguem que esteja presente em mais nomes de ruas, cafes e restaurantes, e que mereca tanto respeito - Excepto Gandhiji, claro! A estatua fica mesmo abaixo deste monte (havia uma imagem, mas apaguei-a se querer, e agora nao tenho a foto comigo... eh a vida...








Terra de templos

***Antes de mais, aviso que escrevo num teclado indiano, sem acentos, e portato vou tentar escrever como no messenger, ou como tantos dos putos desta nova geracao assassina do portugues!
Sendo assim, o "ce cedilha" passa a "c", assim mesmo, sem direito a graduacoes de nivel, um "ce" normal, como qualquer outro, que a gente nao quer ca essas cenas de nobreza e povo..."ce" e "ce cedilha": irmaos da nova revolucao espiritual!!! Pronto, chega de baboseiras, vou escrever como calhar. Ah, e pra quem nao sabe, tambem nao ha "til", e vou escrever "eh" (do verbo ser) para diferencia-lo do e (conjuncao copulativa).
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Om Shanti! As imagens que se seguem podem ferir as susceptibilidades dos mais espiritualmente frageis... Acho que me converti! Estou encantada com esta religiao! Aqui estou eu, a entrada do templo de Vishnu, deus da manutencao do Universo, numa das muitas zonas rurais de Karnataka. Segundo as historias, Brahman cria o Universo, Vishnu mantem-no e Shiva destroi-o no fim de cada ciclo de 400 milhoes de anos. Vishnu sopra para dentro de uma concha que produz o som "om", mantendo assim o Universo em existencia. O simbolo eh este a frente do qual estou. Oooooommmmm!

Parte do templo fica dentro de um lago artificial de agua sagrada, onde as criancas brincam e os adultos purificam-se. No topo do templo podem ver varias representacoes dos deuses hindus, e em baixo, as criancas na agua.

Ao lado ficam os adultos, a meditar e a fumar cigarros, o que pelos vistos nao eh de todo mutualmente exclusivo...
Todos os deuses hindus tem uma montada, ou seja, um meio de transporte animal ou vegetal. No caso de Vishnu, essa montada eh Nandi, o deus touro (que eh, alias, a unica montada que foi promovida a deus--Nandi rocks!). Eh dos meus preferidos, juntamente com Ganesh, o deus elefante. Sim, pronto adooro animais, toda a gente ja sabe, e tal...

Em quase todos os templos ha uma zona com as divindades paleoliticas, aquelas cujas primeiras representacoes datam de varios milhares de anos antes de Cristo, e que se baseiam nos elementos: Indra eh o deus da agua, Igni o deus do fogo, e assim por diante. Alem destes, temos os deuses que representam os planetas do sistema solar e que deram origem aos nomes dos dias da semana em hindu (faz-me lembrar qualquer coisa...) Os deuses dos dias da semana sao colocados em circulo, de frente uns para os outros, em representacao da natureza ciclica do tempo. E ca estao eles:
E eh isso, fiquem em paz, Om Shanti!

Monkeys, monkeys, monkeys!




Sem comentários... São as coisas mais fofas do mundo, sempre em cima de nós e prontas para os flashes dos paparazzi... Opaaaahhhh!

Just a perfect day...

A primeira pessoa (e única, parece-me) a fazer anos na Índia foi a Diana, e fomos todos jantar fora nesse dia de festa. Claro que tava tudo podre do trabalho, e acabámos a noite todos encostados uns aos, já meio a dormir. Claro que o Burras, a Ana e eu somos os mais sornas de sempre, pra variar...roooonc!
Fim de festa, os quatro da vida airada já estavam mais acordados, e prontos pra festa...Yeeiii!!!
Ana atrasada, Dani doida, Mariana monga, Joana janada, Dânia destrambelhada e Sofia Songa.

Aventura em Kolar

Chegámos a Kolar, uma zona nos arredores de Bangalore, no sul da província de Karnataka. O objectivo era fazermos trekking, o que para nós significava algo como andar de um lado para o outro por zonas rurais. Ainda certos de que era isto que íamos fazer, andávamos alegremente pela área, observando os habitantes e o cenário. Aqui temos uma aldeia muçulmana, isolada do mundo exterior, e onde se vive em casas esculpidas na rocha... É o sossego.
Perto dali, uma pastora de cabras, esta já hindú, sai da sua aldeia e leva os bichinhos para pastar. Os filhos seguem-na, autênticas crianças dos campos, tão pouco habituadas a pessoas de fora que se escondem atrás do colorido sari mãe assim que nos vêem.
Pouco depois apercebemo-nos da magnitude da aventura. O objectivo afinal era andar a escalar rochas do tamanho de pequenos prédios, passando por fissuras que pareciam não ter fim, e tudo com a ajuda de... nada! Ou como dizia o guia: "Vocês têm o vosso corpo, para quê material de escalada? Confiem nas vossas pernas, vá!" E nós lá fomos, doze bichos citadinos, já de si pouco habituados ao mato, e absolutamente desconhecedores de algo que se assemelhe ao que, pelos vistos, chamam de trekking.
Aqui estamos já cansados, assustados e esfolados (mais um cicatriz para a minha maravilhosa colecção), mas ainda a escalar. Reparem na parte de cima da foto: o Carlos (de amarelo) e a Dânia (de branco) ainda vêm a descer a parede de pedregulhos. Cá em baixo está o Pedro, eu, a Ana e o Burras, a tentar fingir que fazemos aquilo tudo nas calmas, enquanto posamos para a foto.

Super-Mariana, em pleno voo, a saltar (com a ajuda do Dev - o guia- e o Burras) uma das tais fissuras intermináveis e assustadoras com que nos deparávamos a cada passo. Houve pessoal a tremer que nem varas verdes, a suar em feio e a jurar p'ra nunca mais, já com a lagriminha no canto do olho... That's when we separate the boys from the men...
O grupinho maravilha tinha acabado a primeira fase da escalada, e estava pronto para acabar a aventura, e por isso tirava a foto da praxe, aquela que diz "Ufa, finalmente acabámos", mas claro que aquilo ainda estava mal a começar. De cima pra baixo e começando pelo amarelinho: Carlos, Dani, Joana, Ana, Mariana, Burras, Pedro V, Pedro C, Khristina, Diana, Cristina, João, Dânia e Raquel.

Eu estava nas sete quintas, a adorar cada momento daquilo, a saborear cada a ataque de pânico e a tirar uma fotografia mental de cada rocha que me esfolou o cotovelo. Amei a sensação de liberdade e adrenalina, e repetia a experiência todos os fins-de-semana, se pudesse. E ainda ajudei todas as raparigas e um dos rapazes a atravessar as zonas mais complicadas... Cause I'm a Wo-man...



Acabada a aventura geológica, começa a aventura social. De volta ao autocarro que nos levaria a casa, passámos por mais umas quantas zonas rurais, cujas cores e cheiros nos encantaram, como sempre. Primeiro fomos acolhidos por um agricultor que nos ofereceu feijão verde acabado de colher, e que se comeu cru, na falta de sítio pra cozinhar, e não querendo insultar o senhor...e não é que sabia muito bem?
Logo depois vimos um poço movido a força de bois e que dava água à aldeia inteira... Ainda se vêem coisas destas neste continente.
De volta à aldeia muçulmana. Uma das casas, simples, básicas, sem água corrente nem electricidade e copletamente dominada pelos macacos ( que são uma praga parecia à das osgas no Algarve), impressiona qualquer pessoa com o lindíssimo mural numa das paredes, enquanto logo à frente uma senhora vai ao tanque comum recolher água com que depois cozinha o almoço.

Sri Sri Ravi Shankar Ashram

Metade do que faz a Índia especial são as pessoas. E no topo dessa lista estão os Farfalhaaaas*!
Conhecemos os rapazes (AJ, Aanjaney, Manish, Suhail e Satyam) no Cirrus, o nosso bar do dia-a-dia. Nos demos super bem, e eles viraram nossos amigões! Nos levaram a todo o lado, e quando formos a Delhi (é de lá que eles são), vamos ter guias turísticos privados, hehe... Na foto aparece, por ordem, o Aanjaney, o AJ, eu e a Sofia.
(*farfalha: nome que escolhemos para o nosso grupo durante uma competição que fizemos num fim-de-semana em que fizemos escalada)
Os Farfalhas tinham carro, e claro que assim que me senti à vontade, pedi pra guiar... Do lado direito! Demora algum tempo pra acostumar, mas depois foi o máximo...E já posso dizer colocar "conduzi na Índia" na minha lista de feitos!
Suhail, Dani, Sofia e Aj, a caminho do Ashram Sri Sri Ravi Shankar, um dos mais populares no Sul da Índia. O ashram é muito bonito, mas eu diria que eles confundem um local de meditação com um local de culto pessoal ao guru... Ficam doidos quando ele aparece e tratam-no com a reverência que se daria a um deus... faz um bocado de impressão, parece mais pró brainwash
do que outra coisa. Os nossos amigos indianos dizem que é sempre assim, mas até eles acham que é um exagero.
Vista do ashram de noite. Mais de 200 pessoas vivem lá, há centenas de quartos pra alugar e as zonas de meditação incluem campos, lagos e zonas religiosas. É lindíssimo, mas um bocado comercial de mais. Eu escolheria um local menor e menos conhecido para fazer um retiro espiritual. Talvez encontre um lugar assim...
Na entrada do templo principal do ashram há uma estátua com banho de ouro do deus Nandi... mais um sinal que talvez haja interesses comerciais que se elevam acima dos espirituais... Mas continua a ser lindo!
O ashram principal, ainda mais bonito com a luminosidade do fim do dia.
Adorei a escolha de palavras para instigar os "fiéis" a não colherem as flores. O sinal diz : Toquem nas flores somente com os olhos...

Medical center

Para além da diversão há o trabalho. Fomos a um medical center, que consiste num dia de ajuda médica aos desfavorecidos. A organização é da Meena, mulher do Krishna Byre Gowda, um dos prefeitos de Bangalore. Eles usam uma escola como base de operações, e lá recebem pessoas das aldeias mais próximas, e disponibilizam-lhes consultas de clínica geral, oftalmologia, medicina dentária, ginecologia, etc... Nós ficámos na parte da logística, recebendo as pessoas e apontando os seus dados, e na parte fotográfica, registando os momentos mais importantes do dia. Recebemos cerca de 700 pessoas, e vimos coisas impressionantes, como podem ver nas fotos abaixo. Por outro lado, tivemos a oportunidade de conviver de perto com uma realidade incrivelmente diferente da nossa... Outra experiência maravilhosa!

O melhor do dia, como quase sempre, acabam por ser as crianças, que ficam sideradas connosco, e só querem brincar, brincar e brincar. Aqui estão a Joana, a Dânia e a Ana, a jogarem ao "aônaônadê" indiano com algumas pitas.

Aqui temos um exemplo do que eu disse antes... Vimos coisas horripilantes, feitas por autênticos carniceiros nos slums indianos. Esta senhora partiu o braço e a solução de um desses charlatães foi inserir-lhe um ferro no braço, ferro esse que entretanto ficou metade fora da carne.

Eu e a Sofia acabámos por voltar a casa da Meena e do Krishna no dia seguinte, e passámos um dia na vida de um prefeito da Índia. Andámos com ele pelas aldeias, a inaugurar escolas, a entregar certificados e a passar por VIPs. Foi divertido e extremamente interessante, e no fim do dia fomos convidadas a comer com o casal, em casa dele. Comemos Ragi, uma bola castanho-acinzentada de comida, feita de cereais e que não se pode morder, pois é considerada sagrada... Mas era boooom! ( A Meena é a senhora que está por trás de nós, e a roupa indiana que temos vestida é toda dela. Ela achou melhor que não andássemos pelas aldeias com a nossa roupa ocidental e demasiado justa, e nós contentíssimas da vida por podermos usar um verdadeiro salwar kameez pela primeira vez.)

Rafting no Rio Cauvery



Já diz o Herman Hesse em "Siddartha" que a maior aprendizagem é feita observando o rio, que corre sempre, imóvel mas alterando-se constantemente... A nossa experiência foi muito zen, sem dúvida! Chegámos ao Rio Cauvery de manhã, e lá fomos nós, dentro dos barcos de borracha, enfrentar ondas e rápidos. O barco virou, fomos todos para dentro da água, a corrente levou algumas pessoas que depois resgatámos, e acabámos o dia a comer um almoço no meio do mato, entre o rio e os macacos. O sítio é paradisíaco, qual cenário de Apocalypse now, onde andávamos entre braços de rio e árvore afundadas na água, observados por meninos da mata, a baloiçarem entre as lianas e os troncos flutuantes... O silêncio, as cores, a adrenalina... Imperdível!!!



Bangalore by night



Fotos pseudo-artísticas de B'lore by night...



Fiéis

Sábios do templo